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segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A Rocha da minha Praia

Tenho mantido relações frequentes com uma rocha da minha praia…
Fascina-me o século XIX, a humanidade de Nietzsche, a consolidação do equilíbrio político, o germinar do socialismo, a geração de 70, a mais brilhante e categórica da nossa história…
Sinto por (n)essa rocha e somente por essa, pois é da minha praia e acompanhou o meu desenvolvimento,
Tamanha admiração paternal, tremendo fascínio e aconchego familiar, que por vezes chego questionar-me acerca da racionalidade emocional, não das rochas, mas unicamente daquela com quem me tenho partilhado…

Não é verdadeiramente a sua longevidade que nos prende umbilicalmente.
Muita gente, nascida naquele século, com enorme fulgor descritivo, notável capacidade intelectual,
Me poderia conceder uma compilação detalhada destes acontecimentos…
Mas não é isso que procuro.

Na verdade, centro a minha existência naquela rocha, porque ela me adoptou na altura da minha revolta interior.
Tendo feito parte desse mundo (que me invade quando cerro os punhos e dou voz a Humanidade),
Actua com tal delicadeza nos nossos diálogos, que chega a omitir ingenuamente a sua incomparável experiência de vida…
Quando o faz, lembro-me do gesto dos pais, que a meio da noite, combatendo o desgaste do dia, vão ao quarto do filho, aconchegá-lo, cobrindo o seu corpo com tórridos afectos…

Provavelmente se essa rocha falasse, ou melhor se eu fosse capaz de a entender linguisticamente, teria desejado morrer naquele dia em que escorreguei da minha rocha e embati desamparadamente com estrondo na água…

Penso muitas vezes acertar esse detalhe fatal e voltar a escorregar da minha rocha, cair de cabeça na água com os olhos abertos, para que a água do mar, por força da sua composição, me forçasse a redefinir o slogan estarrecedor do “espelho da minha alma”: ÓDIO!
Só não o faço, porque na minha época, nesta maldita fase dos povos, o suicídio, já não significa morrer com honra e dignidade, mas sim um distúrbio mental…
Cerro-me firmemente nas tuas mãos e sigo dando humanidade à tua voz!

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