http://diariodoinfinito.blogspot.com/

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Autonomia Transversal

Ninguém se preocupa em descrever a fúria interior do caracol.
Julgam a sua acção inconsequente,
A sua consciência de pertença ao Mundo inexistente,
O seu ódio inofensivo...
Entendem o seu refúgio por entre carapaça e a ontologia do seu trajecto (refúgio este verificável quer em momentos de solidão suicida, quer naqueles de mãos enlaçadas por amor) por medo da acção dos predadores que compartilham o seu universo vivencial.

Nenhum homem até hoje, cientista ou filósofo, lúcido ou idóneo, teve coragem de dizer que o caracol, em momentos da sua pacata existência, sente necessidade de se virar, literalmente, para dentro de si próprio, de modo a reflectir acerca da sua inserção no mundo.
É verdade que tudo isto é humanamente inobservável (e imperceptível a quem, como eu, apenas pensa na razão de ser do SER).
Não nego que a consideração da posição do caracol no planeta nos seja algo de indisponível.
O certo é que a sua integração em si próprio, sem necessidade de percorrer espiritualmente (ao contrário da nossa espécie) a interminável distancia entre o interior e exterior, não nos é incompreensível.

Tem-se dito, em debates promovidos pela minha consciência, que o caracol tem uma vida enfadonha, fruto da lentidão de processos que biologicamente o caracteriza.
Ouvi até por vezes dizer que o estilo de vida da generalidade dos caracóis é antiquado, conservador.

Tudo isto é mentira!

A sua vida serena e equilibrada é elemento de bem-estar.
O ócio que se auto-promove é felicidade propagada aos que, como eu, o seguem.
A desnecessidade de rapidez de movimentos é tranquilidade emocional.
Por tudo isto o estilo de vida do caracol é verdadeiramente revolucionário.

Finalmente, análise do caracol, tem levado muita gente a considerá-lo como um ser ignóbil, até mesmo imprestável.
Tudo o que evidencia a arrogância, prepotência da espécie racional, guia da destruição do mundo.
É indubitável que os líquidos libertados pelo caracol, não são algo de apreciável. Nem tão pouco as cenas de amor carnal, quando em vez por eles, publicamente, manifestadas.

Façamos, contudo, um esforço de reflexão acerca da governação que temos vindo a efectuar na área da protecção do nosso real bem escasso.
Pensemos na chuva que nos atinge pelo mês de Agosto, na imperceptibilidade de alguns lugares do planeta…
Tudo isto é banal. De tudo isto se fala hoje.
Nunca ninguém pensa é na humilhação que alguns comentários provocam ao caracol.

Sem comentários: